domingo, 22 de fevereiro de 2015

Sobre o livro A Passagem dos Cometas


Alguns leitores que o leram comentaram que o acharam muito amargo.
Lembro que meus avós diziam que quanto mais amargo é um remédio mais eficaz se torna. O que não deixa de ter um fundo de verdade. Lembremos o chá de boldo que é muito amargo mas não tem remédio caseiro melhor para o fígado.
Bem, voltando ao referido livro eu pergunto: O que você gosta de sentir ao ler um livro?
Recorrendo à algumas reminiscências literárias, encontrei esta:
Certa vez, perguntaram a Franz Kafka (escritor tcheco, autor de romances e contos, considerado pelos críticos como um dos mais influentes do século XX) que tipo de livros as pessoas deveriam ler. Sua resposta:
“É bom quando nossa consciência sofre grandes ferimentos, pois isso a torna mais sensível a cada estímulo. Penso que devemos ler apenas livros que nos ferem, que nos afligem. Se o livro que estamos lendo não nos desperta como um soco na cabeça, por que perder tempo lendo-o? Para que ele nos torne felizes? Oh, Deus, nós seríamos felizes do mesmo modo se esses livros não existissem. Livros que nos fazem felizes poderíamos escrever nós mesmos num piscar de olhos. Precisamos de livros que nos atinjam como a mais dolorosa desventura, que nos assolem profundamente – como a morte de alguém que amávamos mais do que a nós mesmos –, que nos façam sentir que fomos banidos para o ermo, para longe de qualquer presença humana – como um suicídio. Um livro deve ser um machado para o mar congelado que há dentro de nós.”
Pela minha ótima achei original, certamente, pendendo para o extremo, talvez. Admirar um escritor não significa necessariamente concordar com tudo que ele diz. Mas será realmente necessário que tudo se “transforme em monstro” para que o livro valha a pena? Nem tudo o que Kafka disse pode ser considerado verdade absoluta – afinal, existem outras metamorfoses possíveis, nascidas do belo, do íntegro, do poético. O que é verdade, contudo, é a essência do pensamento do escritor: livros devem provocar o leitor; devem tirá-lo de seu mundo mais cotidiano e criar uma abertura, uma possibilidade de novas ideias; instigar sua imaginação. Devem fazê-lo viajar, sonhar, refletir. Viver momentos bons – ou ruins – através das palavras que ele lê. Não importa o que ele vai sentir ao final – felicidade, tristeza, agonia, dor, entusiasmo. Importa fazê-lo sentir algo.
Edir Araujo, poeta e escritor (ainda que dos mais modestos). Autor dos romances psicológicos A Passagem dos Cometas e Fulana. Gritos e Gemidos (Seleção de poemas e crônicas) e alguns ainda na gaveta, amadurecendo.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

A PASSAGEM DOS COMETAS (Fragmentos)

Divulgando mais um trecho do livro para degustação dos que ainda não leram. Página 185:
(...) POETA - Minha vida é estudá-los, meu caro! Não pense que sou feliz por isso, me provocam tanta melancolia, mas por admirá-los tanto... Despertaram a minha atenção desde menino, desde os bancos escolares. Aos oito anos já lia Viriato Correia, célebre autor de obras infantis. Degustava com prazer “No Reino da Bicharada”. Devorava Monteiro Lobato, as poesias de Olavo Bilac, Castro Alves e por aí vai... Sempre fui apaixonado por literatura, sabe disso, sobretudo a poesia. E cá estou eu, formado em Odontologia, com o meu gabinete particular, mas sempre voltado para os poetas.
EDITOR - Um incansável estudioso dos poetas.
POETA - Isso mesmo. Aprendi e aprendo tanto com eles! Com eles sorrio, com eles choro, vivo, respiro... Com eles sofro, resignado... e morro. Ah! Não ligue pra isso, vai! Não dê ouvidos às minhas afetações. Mas às vezes me pergunto por que sofrem tanto, e passam velozes como os cometas. A fatalidade e a desgraça parecem espreitá-los e num instante são arrebatados. `


À venda no site Clube de Autores >
https://clubedeautores.com.br/book/139950--A_PASSAGEM_DOS_COMETAS